Ontem à noite
(31/10/2012) estava eu deitada e pensando em escrever um post sobre uma pessoa
tão querida e importante na vida de tantas pessoas e na minha em especial.
Se estou viva hoje (além da vontade de Deus) é somente por causa
dela. Ela foi a única pessoa que realmente acreditou em mim como serzinho
humano quando ninguém acreditava.
Foi ela que me levou ao médico quando nasci e também foi ela que
não acreditou no primeiro médico quando esse disse pra me levar pra morrer em casa.
Foi ela também que me levou a outro médico e pediu para que este
(diante de suas posses) pudesse me salvar. E não foi apenas nesse momento que
ela me socorreu levando-me a médicos.
Quando eu era bem pequena, vivia cheia de tumores que nascia em
várias partes do corpo. Lembro que doía muito, sofri muito por conta dessas
“chagas”. Depois de me levar em outro médico (já grandinha), nunca mais senti
coisa alguma em relação a tumores.
Vou ser eternamente grata por essas e por outras atitudes tão
louváveis dessa mulher tão linda, tão forte, tão esperta, tão sofrida, tão
guerreira e tão inteligente.
Vó Mariquinha, como todos os netos a conheciam. E que eu achava que era seu nome
verdadeiro. Só por volta dos 7 anos de idade que descobri que a querida vó
Mariquinha não se chamava de fato Mariquinha. Seu verdadeiro nome era Letícia,
que significa: Alegria em
Latim. Um nome muito apropriado para uma pessoa que me deu
tantas alegrias.
Estar perto dela era uma festa sempre!!! Seja porque motivo fosse.
Só pra ficar registrado, não foi apenas em meu “nascimento”
que ela me ajudou. Ajudou-me ficando comigo e cuidando de mim (da melhor forma
possível) quando meus pais decidiram se separar. Foi pouco tempo eu sei, mas
esse pouco tempo foi de uma qualidade incrível.
Quando ela pedia pra pegar seus remédios (que ela tomava
diariamente) era festa. Eu me sentia muito especial e importante quando ela me
pedia pra fazer esse simples favor.
Muito bom também quando às vezes de tarde no alpendre (normalmente
depois do almoço), ela sentava numa cadeira de balanço e pedia pra fazer uns
cafunézinhos na cabeça. Às vezes ela mentia pra gente (pra quem fazia o cafuné)
que estava cheia de piolhos. Essa era a desculpa pra gente mexer mais ainda nos
seus cabelos prateados. Às vezes tinha até disputa pra ver de quem era a vez de
fazer o tão esperado cafuné na vó.
Nessa época a sua casa era cheia de netos. Era uma bagunça
organizada só. Era muito legal.
Mesmo quando fui morar em Iguatu, sempre que possível ela ia lá me
ver e sempre tinha um carinho a mais escondido na manga pra dar ou nos fins de
semana íamos todos pra sua casa e o carinho era muito maior.
Ela ensinou-me a bordar ponto cruz. E graças a isso (ao bordado),
hoje sei o que é fazer a mente sair do corpo e depois voltar ao mesmo lugar.
Desligar mesmo por alguns poucos instantes.
Ela fazia bordados lindíssimos pra vender ou simplesmente para dar
de presente.
Minha querida avó fazia comidas tão gostosas pra nos
alimentar, como: arroz de leite, angu com leite, mungunzá salgado com feijão e
pedaços de porco, tapioca, sarrabulho, queijo coalho. Humm... Eram tantas
delícias de encher os olhos e o buchinho. Ela também fazia doce de leite. Mas
eu não comia muito (não gosto tanto assim de doce de leite).
Ela nos tratava (a todos os netos) como filhos. Não tinha
distinção de seus filhos verdadeiros como o Junhão e a Detinha e com a gente.
Acredito que éramos “todos iguais” pra ela. Tudo farinha do mesmo saco como se
diz por aí. Mesmo que seus netos não tivessem saído de dentro dela como os seus
filhos biológicos, éramos todos seus “filhos” de um jeito ou de outro.
Uma vez, quando eu era adolescente e morava já em Fortaleza, fui
lá na casa dela, e lá houve um mal entendido e o marido dela me
expulsou de sua casa e fui falar com ela, pra saber do que se tratava. Já que
ele disse apenas: Saia da minha casa agora, não quero lhe ver nunca mais aqui.
E ela me disse chorando: Filha, não sei o que houve, mas, por favor vá embora.
Vi tanto carinho naquele pedido e naquelas palavras, que saí de lá sem questionar
nada. Depois de um mês eu soube o motivo do desentendimento e o rancor e a
mágoa por aquele homem não foi embora nunca mais. Ela existe até hoje dentro de
mim. Mas esta é outra historia triste que acredito que não valha à pena
comentar.
O fato é que mesmo nos momentos difíceis, ela sempre esteve do meu
lado. Mesmo que fosse pedindo pra ir embora de sua casa.
Quando eu tinha 20 anos, minha avó adoeceu. Descobriu-se que a
minha querida e amada avó estava doente com câncer no estômago.
Depois que foi descoberto esse mal terrível nela, passou pouco
tempo e no dia 04 de outubro de 2001 para sempre, ela nos deixou e eu fiquei
muito feliz por isso.
Não pense que sou uma insensível, pois não sou. Vou explicar a
minha versão dos fatos para que eu não seja mal compreendida por ficar feliz
pela minha querida avó nos deixar.
Quando a minha avó estava já perto de nos deixar, fez
uma cirurgia que após abrir não foi feito nada, pois, quando abriram pra tentar
remover o câncer que inicialmente era no estômago, os médicos viram que este já
tinha se generalizado e só fizeram fechar novamente a sua incisão. E nada foi
feito pra finalizar ou aliviar o seu sofrimento. Não foi dito nada pra ela. Ela
pensava que tinha feito a cirurgia e que iria se recuperar.
Uma vez fui visitá-la no hospital e ela estava com uma carinha
muito triste, parecia estar sentindo muitas dores fortes e de dois tipos. A
primeira de ordem fisiológica e a segunda de ordem psicológica e moral.
Depois de ver aquela cena uma parte de mim parecia morrer um
pouco. Pois nem em meus piores pesadelos pensei que fosse ver aquela cena.
Foi então que decidi conversar bem baixinho com Deus e fiz um
pedido muito especial pra ele: Deus, por favor leve a minha querida vozinha pra
um lugar bem especial e leve-a pra um local bem longe desse sofrimento e se
possível, pra bem pertinho do Senhor. Certamente, todas as pessoas que a amam
vão ficar triste, mas posso assegurar que pelo menos pra mim a tristeza vai ser
muito menor saber que ela não estará mais aqui comigo, mas a felicidade será
imensa por ver e saber que ela não sentirá mais nenhum tipo de dor.
Pensando assim, não me vejo jamais como uma pessoa egoísta. Pois
egoísmo eu sentiria se... eu a quisesse a todo custo perto de mim, sofrendo o
tanto o que ela estava sofrendo.
Não me senti mal e nem me sinto mal hoje por ter pedido isso a
Deus. Ao contrário, me sinto muito feliz por ele ter atendido tão prontamente
ao meu pedido.
Depois que ela se foi, todos estavam muito tristes. Só eu
estava feliz (pelo menos parte de mim). Não me sinto culpada por isso. Eu amava
tanto, tanto, tanto a minha avó que estava feliz por ela ter partido e deixado
de sofrer. E agradecida por ter tido a oportunidade de ter vivido tantos
momentos bons e ótimos ao seu lado.
Existem pessoas que me chamam hoje de coração de pedra, de
criatura sem coração, e de muitas coisas ruins. Mas entendo que isso é só um
disfarce dessas pessoas, pois, é nessas horas difíceis que essas pessoas
vêem até a mim e inconscientemente me chama de rocha. Porque no fim das contas
sou eu quem cuida da praticidade e dá apoio a essas pessoas. Tem sido assim
sempre que morre algum parente, ou alguém querido.
Mas tenho uma coisa a dizer pra essas pessoas que acham que eu sou
uma rocha sem coração: Eu tenho coração sim. Este meu coração é um músculo
pulsante e involuntário como o de todas as outras pessoas, que tem sentimentos
e que são muito fortes.
Mas nas horas difíceis e de dor, não posso, não quero e não vou
ser egoísta como a maioria das pessoas, que só pensam em sua única dor, que não
pensam de verdade na dor de quem realmente está sofrendo.
Minha avó Mariquinha/Letícia sempre vai estar em meu
coração, nas minhas lembranças e em meus pensamentos.
Queria e desejei muito que a minha preciosa avó estivesse
junto de mim quando a minha amada filha nasceu. Tenho certeza de que não teria
tido ou não teria passado pelos problemas que passei estando junto dela. Mas a
gente não tem tudo o que quer, não é mesmo?!!
E por isso, no fim das contas eu devo dizer: minha querida Avó,
sempre será a minha doce e maravilhosa Heroína.
Obrigada minha avó amada por ter acreditado em mim, quando
ninguém acreditava. Sou muito feliz por Deus ter me dado o direito de ter tido a
senhora na minha vida por longos 20 anos.